Era
domingo que pita cachimbo e Tatão Chaves aproveitou para pedir Lili Mercedes,
mestra de letras, em casamento. A cidadezinha de Monte Alegre, sabedora da
novidade, botou a cabeça de fora para presenciar Tatão em cima das botinas de
lustro e por baixo dos panos engomados. Para avivar a coragem, Tatão bebeu, no
Bar da Ponte, meio dedo de licor, coisinha de aligeirar a língua e aromar a
boca. Como achasse o licor educado demais, mandou cruzar a bebidinha com
cachaça de fundo de garrafa. E recomendativo: — Daquele parati mimoso que até
parece flor de jardim. De talagada em talagada Tatão perdeu a mira da cabeça.
Embaralhou o pedido de casamento com negócio de disco-voador, imposto de renda
e busto de moça. A essa altura, gravata desabada e camisa fora da calça, Tatão
preveniu: — Sou o maior dedilhador dos desabotoados das meninas já aparecido em
Monte Alegre. Sou Tatão Chupeta! Gritava que era monarquista, que era a favor
da escravidão e que o prefeito de Monte Alegre não passava de uma perfeita e
acabada mula-sem-cabeça. E para arrematar, ganhando a porta do Bar da Ponte,
garantiu: — Só queria que aparecesse neste justo instante um boi cornudo para
Tatão esfarinhar o chifre do sem-vergonha a bofetada! Nisso, um boizinho
desgarrado apontou na esquina da Rua do Comércio. Tatão cumprindo a promessa,
armou o maior soco do mundo. E atrás do soco saiu Tatão, atravessou a Praça 13
de Maio, entrou no Mercado Municipal, desmontou duas barracas, esfarelou um
comício de tomates e só parou no Açougue Primavera. E meio adernado sobre um
quarto de boi que sangrava em cima do balcão.
José Cândido de Carvalho
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